Caridade. Substantivo feminino que significa amor a Deus e ao próximo. A partir dessa definição é possível contar uma história que certamente nos faz ter a esperança que de fato nem tudo está perdido.
Muitas vezes a gente passa por artistas "de rua" e simplesmente não notamos suas apresentações, seja por pressa, distração ou qualquer outro fator que impeça de apreciáramos suas qualidades artísticas. Mesmo com todos esses motivos, que as vezes nada mais é que uma desculpa ou até mesmo preconceito, alguns artistas chamam tanto atenção que despertam nossa curiosidade. Esse é o caso do seu José Carlos Romeiro, conhecido carinhosamente como Zé Gaiteiro.
Natural de Londrina/PR, o seu Zé conta que chegou em Criciúma há mais de 15 anos. Em uma conversa descontraída em um humilde mas aconchegante quarto de uma pousada no Centro da cidade, o gaiteiro mais conhecido de Criciúma conversou com nossa equipe e contou um pouco mais de sua história.
Nascido em 1953, o gaiteiro de 67 ainda se emociona quando fala de sua família. Morando sozinho, seu Zé conta que por causa das condições financeiras de seus pais, ele e seus quatro irmãos tiveram que trabalhar desde criança para poder ajudar com as despesas de casa. Aos oito anos, ao ver pela primeira vez um acordeon, conhecido popularmente como gaita, seu Zé afirma que foi amor à primeira vista. Desde então, criou-se uma história de amor entre a gaita e o gaiteiro.
Em busca de melhores condições de vida, sem deixar de tocar, junto com à família seu José mudou-se para cidade de Santo André, no grande ABC paulista. Por lá, o gaiteiro mais querido de Criciúma trabalhou em diversas empresas, até que começou a se apresentar em muitas cidades do sul do Brasil e desde então nunca mais teve um trabalho formal. Em uma dessa apresentações, em meados dos anos 2000, vindo para cidade de São Leopoldo/RS, seu Zé conheceu Criciúma e decidiu que aqui faria morada. A partir disso, é difícil passar pela região da Praça Nereu Ramos sem ver suas apresentações.
Porém, nem tudo são flores. Com a idade avançada e sem ter terminado o ensino médio, vem os problemas de saúde e os problemas econômicos. Seu José conta que sua única fonte de renda até 2020 sempre foi suas apresentações. O dinheiro arrecadado diariamente em seus shows servia apenas para pagar seu aluguel, custos com os remédios e sua alimentação. Graças a caridade de um jovem advogado, tudo isso mudou.
A caridade
Era uma manhã qualquer do mês de maio de 2020 quando o jovem advogado Artur Bolan Búrigo, de 25 anos, passava pela Rua Coronel Pedro Benedet, local de trabalho do seu José. Com um carisma sem igual e com um talento de poucos, o jovem advogado parou para ouvir o gaiteiro tocar.
Ao final da apresentação, no momento em que Artur iria colaborar dinheiro na “caixinha”, o gaiteiro sem saber que estava conversando com um advogado, abordou perguntando-o se possuía direito a alguma assistência por parte da previdência social, afinal, vinha passando dificuldades financeiras e queria ajuda.
Comovido com a situação, o jovem advogado pediu para o gaiteiro contar mais sobre sua história de vida. Durante a conversa, Artur ficou sabendo que o seu José havia trabalhando muitos anos com a carteira de trabalho assinada e poderia ter direitos previdenciários. Posto isso, sensibilizado, o advogado rapidamente fotografou os documentos do gaiteiro e no mesmo dia protocolou em favor do seu José um pedido de aposentadoria, auxílio emergencial e saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
Artur informa que naquele momento nada mais importava, ele só queria ajudar pois via que o gaiteiro passava por dificuldades. O advogado continuou empenhado no caso e há poucos dias veio a notícia positiva. Seu José conseguiu se aposentar, ter acesso ao FGTS e ao auxílio emergencial.
Em conversa com o advogado Artur Bolan Búrigo o mesmo se mostrou muito feliz. "Foi um dos casos mais feliz que eu pude atuar. O seu Zé estava precisando e, poder ajudar para mim é motivo de muita alegria", conta emocionado o advogado.
Em agradecimento, ao saber que havia conseguido se aposentar e que não passaria mais dificuldades financeiras, seu José diz não ter palavras para agradecer. "O Artur foi Deus quem colocou na minha vida. Eu já não sabia mais o que fazer quando apareceu esse anjo e me ajudou. Serei sempre grato", declara.
Questionado se continuaria se apresentando pelas ruas da cidade, seu Zé disse que sim, mas não com a mesma frequência.