Assalto ao Banco do Brasil e o sucateamento da Polícia Militar em Criciúma

O crime, passível de cena de filme, engana a quem pensa que esse fatídico dia aconteceu por acaso.

Por Tcharlles Fernandes

O dia 1° de dezembro de 2020 entrou para história de Criciúma como sendo o dia do maior assalto já registrado em Santa Catarina. Criminosos fortemente armados sitiaram a cidade por cerca de três horas e roubaram cerca de R$ 80 milhões. Durante o roubo, um policial militar e um vigilante foram alvejados, ambos ainda se recuperam. A ação dos assaltantes também envolveu a tomada de reféns, ataques ao Batalhão da Polícia Militar e milhares de disparos realizados na aréa central da cidade. O caos e o medo tomaram conta de Criciúma.

O crime, passível de cena de filme, engana a quem pensa que aconteceu por acaso. Esse roubo é fruto do descaso de anos, desde quando a Segurança Pública do Estado de Santa Catarina passou a ser deixada de lado. Dados disponíveis no Portal da Transparência do governo do Estado soam um alerta: em fevereiro deste ano eram 10.195 policiais militares em todo territorio catarinense. Este número corresponde praticamente aos 10.177 de fevereiro de 2019, mesmo após a inclusão de 535 novos servidores no começo deste ano.

Em Criciúma, são pouco mais de 250 policiais para atender mais de 220 mil habitantes, ou seja, 01 policial militar para cada 880 habitantes. Idealizando um número “modelo” de policiais, o recomendado pela Organização das Nações Unidas (ONU) seria de 01 para cada 250 habitantes.

Desde 2017, a cidade registra excelentes números diminutivos no tocante à praticamente todos os crimes, graças a determinação e persistência dos poucos Praças que ainda seguem trabalhando “na ponta da lança".

Que o Batalhão está abandonado, assim como a Segurança Pública, é verdade, mas ninguém confessa. Contudo, o que presenciamos em abundância no quartel da Polícia Militar de Criciúma são as rotineiras entregas de medalhas, quase sempre presenteadas à pessoas que pouco contribuem com a segurança pública da cidade. Já àqueles que diariamente arriscam suas vidas protegendo a população, por hora são deixados de lado pelo alto comando dessa gloriosa unidade tão importante para todos os criciumenses.

Para se ter ideia do tamanho do sucateamento da Polícia Militar - o que certamente colaborou para que os criminosos tivessem confiança na elaboração do roubo ao banco - podemos elencar alguns pontos:

- Pouquíssimas guarnições de Rádio Patrulhas (RP) para atender a população e realizar um policiamento mais ostensivo. 

- Das poucas guarnições de RPs, que são as primeiras empenhadas em todos os tipos de ocorrência, nenhuma possui fuzil na viatura.

- Armas como a espingarda calibre .12 estão velhas e algumas apresentam pane.

- Coletes balísticos ultrapassados, sem capacidade de "segurar" tiros de fuzil. 

- Motocicletas da Rocam de Criciúma não podem passar de 100km/h (as que chegam a essa velocidade) porque há anos não são substituídas.

- Economia nos treinamentos de disparos de armas de fogo quando oferecidos pela instituição.

- Policiais sem reajuste salarial desde 2013 (sem atualização monetária anual).

Enfim, roubos como aconteceu no Banco do Brasil não acontecem por acaso. Criminosos sabem quando de fato o Estado não se importa com a Segurança Pública. O questionamento que fica é: até quando nossos policiais irão aguentar tanto descaso? A melhoria em equipamentos precisa ser urgente. Falar a verdade não é expor ninguém a riscos, todo mundo sabe que a polícia precisa de ajuda. Se todos se calarem, será sempre da forma que está. Precisamos ter em mente que a Polícia Militar é a última barreira entre a paz e o caos. 

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